estive doente: uma crise forte de rinite alérgica, uma gripe que acabou por descambar em infecção pulmonar e que tive de combater com antibiótico, expectorante e uma dose considerável de "caldos e descanso".
quando estive de cama, lembrei-me do tempo em que era criança e adoecia. doenças leves, cujos sintomas eu geralmente exagerava, ciente de que essa pequena dose de dramatismo me propiciaria cuidados e mimos extra.depois, a expectativa das visitas de uma ou outra coleguinha que chegariam, depois da escola, para trocarem comigo risos e segredos...
mas estes foram dias com um peso diferente: já só na minha memória uns lábios maternais medem a minha febre, beijando-me ao de leve a fronte. o leito uma prisão, a cabeça a estalar de dor, a febre a arder ou a gelar-me o corpo e, do lado de fora da janela do meu quarto, as roseiras que ainda não tinha podado, as ervas daninhas por arrancar; cá dentro, uma gaveta onde ia guardando encontros adiados e um somatório crescente de afazeres.
já recuperada, embora ainda com alguns resistentes vestígios de fragilidade física provocada pela doença, reorganizo o meu quotidiano. agora, de manhã bem cedo, quando saio para o habitual passeio com o cão lost, sou saudada por lírios e jacintos que entremeiam de branco o verde do meu cuidado jardim. despontam, nas roseiras, os rebentos. no alpendre, o vizinho pimpolho aceita felinamente um afago meu e continua a aguardar a chegada de algum dos gatos da casa, para brincadeiras e deambulações em conjunto.
é, pois, altura de regressar a este outro jardim e pôr-me em seguida a caminho, para as habituais visitas.
imagem: Vasily Polenov (1844-1927)
imagem: Vasily Polenov (1844-1927)