Não fujas, gato,
não te assustes
que esta forma de cão
com que me vês
é só um estratagema
um entremez
a esconder a minha mansidão.
Repara, gato,
nos meus olhos
aguados da lembrança
do sítio onde nasci.
De lá fugi
por medo do cajado
do pastor desesperado
quando fugiu a ovelha
que logo se encontrou
com a boca do lobo
que da fome fugia.
Não fujas, gato,
que vás para onde fores
sempre te encontrarás
por dentro desse gato
com medo do teu medo.
E nem o cão pastor
nem a ovelhinha ruça
nem o lobo esfaimado
servirão de desculpa
para o pelo eriçado
para o rabo arqueado.
Sentirás quando muito
um pequenino orgulho
se um ratito atrevido
com medo do teu medo
fugir de ti, ó gato.
amiga idun,
disse-me a minha humana que estes versos podiam ter sido escritos pelo lost que esconde um poeta naqueles olhos doces como o mel.
dá-lhe uma sapatada ternurenta por mim.
autora do poema e do texto em prosa: OIN