que lindas rosas lhe trouxe o sr. pinguinhas, d.adelina!
o sr. pinguinhas vive num lar de idosos, ao cimo da minha rua; apesar dos seus oitenta e muitos anos, gosta de ir passar o seu bocadinho ao café do sr. ramiro. pelo caminho, colhe uma ou duas rosas, dentre as que o espreitam nos muros dos jardins, para oferecer à co-proprietária do estabelecimento.
transmontano dos quatro costados e possuidor de um coração grande, o sr. ramiro é um repositório de histórias, cuja geografia abrange a pequena aldeia de genízio, concelho de miranda do douro, onde passou infância e juventude e contraiu matrimónio, a terra onde vive, a base naval do alfeite e algumas localidades de angola e moçambique, onde prestou serviço na marinha.
hoje, a propósito das rosas que apreciei, falou-me de um certo casal, muito unido, que todos os dias gostava de dar o seu passeio pelas ruas de genízio, de mãos dadas; e, nessas alturas, ele colhia sempre uma flor silvestre para oferecer à mulher, antes de chegarem a casa.
o facto de uma trombose a ter confinado a uma cadeira de rodas e lhe ter roubado a fala, já em idade avançada, não impediu que josé gregório, o marido, continuasse, até ao último dia da sua vida, a fazer o habitual passeio, sempre que as condições climatéricas o permitiam, empurrando a cadeira de rodas e depositando no regaço da mulher as mais belas flores que ia encontrando.
confesso que, ao serem-me transmitidas, estas recordações acentuaram o excelente sabor do meu primeiro café da manhã. e, apesar dos meus dias apressados, não quero deixar de partilhar convosco, ainda contada de fresco, esta real história de amor.