ando há dias a tentar publicar esta postagem. só hoje ganhei coragem para isso, por sentir que o pimpolho merece este último adeus.
deixou-nos há quase uma semana, vítima do seu frágil sistema imunitário, que não conseguiu combater a doença instalada no seu corpo.
era um bichinho terno, discreto, reconhecido e confiante. acompanhava-me todos os dias até à esquina da rua, sempre que eu ia ao café, e ali ficava, à espera, para regressarmos juntos a casa. apreciava as minhas pequenas dádivas: a casinha construída de propósito para ele (desde que, abandonado, o acolhemos no alpendre da casa), forrada com manta polar, no inverno; as pequenas gulodices que eu sabia serem do seu agrado; os mimos que eu lhe fazia, quando por ele passava.
agora que ele morreu, fica um certo remorso por não me ter apercebido antes de que ele estava doente. e, ao mesmo tempo, o facto de o ter compreendido, quando ele me pediu ajuda - limitou-se a insistir em entrar em casa e a dirigir-se ao quartinho onde o deixava ficar, em noites particularmente frias ou chuvosas - os cuidados e conforto que lhe proporcionei, até ao fim, suavizam-me um pouco a consciência.
o pimpolho morreu, posso dizê-lo, rodeado de afecto; enrolado num cobertor quentinho, a cabecita ainda à procura do calor do aquecedor, um esforço para ronronar, quando eu me aproximava, mesmo quando o respirar já era difícil.
agradeço à sara matos, amiga e cuidadora exemplar de animais de rua e ao veterinário vasco cardoso e restantes elementos da equipa da clínica veterinária de campolide, todo o apoio prestado; à ju, amiga de sempre, o bálsamo da sua presença; ao philippe que, com a sua tão particular sensibilidade adivinhou, mesmo à distância, o meu choro silencioso e sem lágrimas.