agosto 24, 2010

um hóspede indesejável

olá, amigos!

tencionava, para anunciar o nosso antecipado regresso à blogo-esfera, publicar uma foto que a brunildinha me tirou, num dos meus recantos favoritos, e na qual eu fiquei em pose verdadeiramente impressionante, a qual teria inspirado rousseau le douanier, caso ele fosse nosso contemporâneo.
porém, aconteceram-nos, nos últimos dias, coisas que eu não posso deixar de partilhar convosco.
como sabem, estivemos de férias. a Humana aproveitou para mandar fazer umas pequenas obras no jardim: dois estranhos invadiram-no e quase nos iam matando de susto com o estardalhaço que por cá fizeram; mas , verdade se diga, mal eles se foram embora, fomos todos apreciar o nosso espaço renovado, mais organizado e agradável.
eu tive logo uma ideia que julguei brilhante:
- eh! bicharada! e se, aproveitando as ausências da Humana, tentássemos arranjar hóspedes? para ganharmos alguma coisa com isso, claro!

fomos fazer umas pesquisas e, colocámos, num site da internet, o seguinte anúncio:

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recebemos numerosos emails de interessados que foram imediatamente postos de parte, dado que seria potencialmente perigoso aceitarmos, neste sossegado recanto, cães, gibóias, crocodilos, tigres ou pinguins, entre outros espécimes turistas.

seleccionámos, pois, um tal astrolindo pavão que, às primeiras impressões, nos pareceu bastante apresentável e digno de confiança.



no dia marcado, o nosso hóspede lá apareceu, e trazia com ele uma data de bagagem, que o lancelote e o llugh tiveram de carregar com evidente esforço até aos aposentos que lhe tínhamos destinado.
depois disso, digo-vos, foram dias para esquecer:
astrolindo pavoneava-se, arrogante, pelo nosso jardim, dizendo mal de tudo; quando não estava a dar-nos ordens – a brunildinha até emagreceu uns bons 400 gramas, nas idas e vindas carregada com grãos, minhocas, sementes e plantas para Sua Excelência - era vê-lo, agarrado ao telemóvel, em conversinhas parvas com os elementos do seu harém.

já o deitávamos pelos olhos quando, uma manhã, fui dar com ele a fazer sorrateiramente as malas, julgando que andávamos à caça no quintal do vizinho.
- com que então, de malas aviadas? perguntei.
o vaidoso, sem me dar resposta, começou a correr em direcção à porta, com aquelas patas altas que lhe davam um andar cheio de estilo. chamei a gataria e fizemos-lhe um cerco que o impediu de dar às de vila diogo.
-pode ir embora mas tem de pagar o alojamento e estadia.
- era o que faltava, ranhosos! deviam era agradecer-me por tê-los honrado com a minha distinta presença nesta espelunca...
-não sai sem passar para cá quatro dúzias de latas de comida de gato, conforme combinámos! disse o arturzinho, com ar autoritário. e depois, virando-se para mim: idun, vai já telefonar à polícia!

uma hora depois, apresentou-se cá no jardim um agente da autoridade, que nos informou que o nosso “distinto” hóspede se tinha evadido, há alguns meses, do jardim do museu da cidade, em lisboa, e andava por todo o país a iludir jovens fêmeas e a provocar desacatos. disse-nos, ainda, para ficarmos descansados, que iríamos receber uma boa recompensa  por termos tido um papel fundamental na captura de astrolindo pavão.

quando se foi embora, levando com ele o meliante, devidamente acorrentado, tentámos acalmar a brunildinha, que ainda estava tomada de uma grande fúria, por termos sido tão facilmente ludibriados.
mas todos acabámos a rebolar-nos de riso, quando a minha irmã mimosa nos contou:
- enquanto estavam aqui a falar com o polícia, disse cá para mim: sabe-se lá se recebemos, ou quando recebemos, essa tal recompensa!se ele julga que ficamos de patas a abanar, está bem enganado! então, aproximei-me à má fila e arranquei-lhe três penas, que decerto trocaremos, rapidamente, por latinhas de paté “sabores do campo”.



Arquivo de jardinagem

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