janeiro 13, 2010

brunilde, no seu melhor

tenho de reconhecer que o facto de ter sido submetida a uma intervenção cirúrgica me trouxe algumas vantagens: o gato diego, que anda em digressão pela américa latina, enche-me de atenções: é raro o dia em que não recebo um telefonema (reafirmando o seu amor por mim e manifestando a sua preocupação em relação à minha saúde), um ramo de flores, um recuerdo desses países para mim tão longínquos…
e a Humana, então, apaparicou-me como nunca o tinha feito antes, fazendo-me sentir uma verdadeira princesa.
quem não achou muita graça a isso foi a minha irmã brunilde. era vê-la, sempre que me visitava (nos dias em que eu estive um pouco prostrada) a deitar olho comprido às latinhas de paté ou ao peixe cozido que a Humana punha no meu prato.
para que ela não se sentisse menosprezada, expliquei-lhe que a Humana só me dava estes mimos extra, devido ao que me tinha acontecido.
brunilde – idun, explica lá o que é que te fizeram! doeu muito?
idun- ó brunildinha, eu já te disse que não dei por nada…
como eu nada lhe pude contar, a brunilde passou a escutar todas as conversas da Humana, a ver se conseguia obter alguma informação acerca do que me tinha sucedido.
Humana (ao telefone) – a idun foi operada mas, felizmente, recuperou bem e com muita rapidez. ah, cheia de mimos, claro!...
ontem, ao fim da tarde, a Humana chegou a casa e, contrariamente ao que é habitual, a brunilde não a esperava, no alpendre. encontrou- a, deitada na sua almofada de tecido polar.
Humana – olá, brunildinha! então, não vens comer a tua comida seca? o que é que se passa?
brunilde – ai, Humana! quase nem consigo mexer-me, com dores.
Humana – mas o que é que te aconteceu?
brunilde – nem imaginas! hoje, durante a tua ausência, andava eu muito bem a provar uma erva de gato , no quintal do ruca, quando senti uma tontura. vim a correr para casa mas não consegui aqui chegar, pois desmaiei, mesmo em frente ao portão do jardim.
Humana (consternada) – ohhh!
brunilde – o que me valeu foi que uns senhores que iam a passar chamaram logo um veterinário, que chegou pouco depois (já eu tinha recobrado os sentidos), num carro branco; levou-me para uma clínica, onde fui submetida a uma intervenção cirúrgica. depois, trouxe-me até aqui, com muito cuidado, e disse-me que tinhas de tratar de mim, como fizeste com a idun.
Humana – claro que sim, brunildinha. mas diz-me: onde é essa clínica? é que eu tenho de ir pagar a conta ao veterinário. e não deve ser pouco…
brunilde – aí é que tu te enganas. o veterinário é uma boa alma que, sabendo das despesas que tens connosco, me pediu para te dizer que não lhe deves nada. e até me fez jurar que não te dizia quem ele era, para tu não te sentires em dívida para com ele.
Humana – realmente, brunilde, ainda há gente de bom coração. mas olha, explica-me lá qual foi o tipo de cirurgia que ele te fez.
brunilde – ora, é como dizes . uma cirurgia. uma operação...
Humana – sim, mas que tipo de operação?
brunilde – humm…uma operação…bem… hã... uma operação… multibanco. foi isso!
Humana – estou a ver. algumas dessas operações são muito delicadas e, por vezes, extremamente debilitantes. vais ter de tomar medicação, fazer tratamentos...
brunilde – o meu, foi um caso especial. diz o veterinário que não preciso de medicação. é tudo à base de repouso, conforto e dieta. e, atenção: nada de comida seca! pode ser fatal! durante umas semanas, só peixe, fígado cozido e, diariamente, uma mini-lata de paté “delícias do mar” e outra de “sabores do campo”. ah! Já agora, antes de ires tratar da minha dieta de hoje, importas-te de pôr uma botija de água quente debaixo da minha almofada?

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